1) O primeiro dia de Oktoberfest

Bom, começando pelo começo – já que não tem como falar de München sem falar de Oktoberfest, né?

Obviamente a cidade não se resume a isso mas é impressionante como as pessoas se mobilizam para a festa! É realmente um grande evento! Chegamos em München no inicio de agosto de 2014 e as grandes lojas já estavam todas anunciando suas coleções de Trachten, as roupas típicas que o pessoal usa em datas comemorativas – Dirndl para elas e Lederhosen para eles (e para elas também, por quê não?). E a Oktoberfest é, antes de mais nada, uma grande celebração!

Este não é um blog de história mas preciso contar que a festa surgiu em outubro de 1810, para celebrar o casamento do famoso príncipe Ludwig I e da princesa Therese – que mais tarde foram coroados reis da Baviera. O local onde acontece a festa, Theresienwiese, foi nomeado em homenagem à princesa/rainha supracitada. Hoje em dia a festa se inicia em setembro simplesmente porque o clima é melhor do que em outubro (ou menos pior, em se tratando de Alemanha). E olha que bacana: há alguns dias descobri que a rua onde fica o apartamento em que nos hospedamos durante nosso primeiro mês aqui (Theresienhöhe) era a montanha de onde os 40.000 convidados do casamento assistiam às festividades e às corridas de cavalo. Engraçado pensar nisso, porque da nossa varanda também ficávamos apreciando a vista, vendo como pouco a pouco aquele parque gigante e com cara de abandonado ia se transformando no local que a cada ano abriga a maior festa popular do mundo!

"O corvo" sobrevoando Theresienwiese

“O corvo”, apreciando Theresienwiese da nossa varanda

Pois bem, sábado dia 20 de agosto de 2014 foi o dia de abertura da 181a. edição da Oktoberfest (não, as contas não estão erradas: durante alguns anos a festa foi cancelada devido a guerras e epidemias). Foi também o MEU primeiro dia de Oktoberfest (mesmo já tendo morado por 3 anos na Alemanha, nunca havia estado na festa). Como iríamos justo no primeiro dia de festival, nos aconselharam a chegar MUITO cedo (por volta 7h da manhã) para assim ter uma mínima esperança de conseguir entrar na tenda Schottenhammel para ver o prefeito da cidade abrir o primeiro barril de cerveja e gritar “O’zapft is!” que não tem exatamente uma tradução para o português mas significa algo como Já pode beber, galera! O barril tá aberto!”.

Parecia um bom negócio até o momento em que descobrimos que para presenciar tal feito teríamos que enfrentar uma jornada de 5h entre longas filas + a correria para conseguir uma mesa + toda a cerimônia, que só acontece ao meio-dia. Imaginem, 5h de jejum pra ver o prefeito abrir o barril… Decidimos todos de comum acordo que seria suficiente só dar uma volta pelo parque, ver tudo do lado de fora e, quem sabe, até tentar entrar em uma tenda menos badalada mais tarde.

Chegamos por volta das 14h, o dia estava meio chuvoso mas abria um solzinho de vez em quando. Temperatura agradabilíssima! Saímos de Haidhausen via Ostbanhof e descemos na estação Hackerbrücke – fomos de S-bahn (um híbrido entre metrô e trem de superfície) pois como moramos por um mês na região de Theresienwiese já sabíamos que seria praticamente impossível descer na estação principal de U-bahn (o metrô) que fica na entrada do parque. Foi tudo super tranquilo e sem estresses mas assim que chegamos nos arredores da rua onde moramos em agosto já deu pra notar a bagunça e, infelizmente, a sujeira. E era só a primeira metade do primeiro dia de festa.

Foi incrível chegar à entrada principal e ver como eles foram capazes de montar toda aquela estrutura! Acompanhamos tudo desde o comecinho já que fomos vizinhos do parque por um mês e realmente é impressionante como dão atenção aos detalhes!

Oktoberfest: antes e depois

The making of Oktoberfest

Demos uma volta pelo espaço, passamos pelas tendas lindas, gigantescas e apinhadas de gente (filas enormes para entrar!), pelos diversos stands de souvenirs e comidas gordinhas (gente, só tem gordice nesse país!) e, finalmente, encontramos o tal Weißbierkarussell Fahrenschon – aparentemente o único lugar do parque que vende cerveja fora das tendas. Foi até fácil entrar – menos de 5 minutos de fila – e fácil também comprar a cerveja (só tem Weißbier Hofbräu, 5EUR + 3EUR de depósito, devolvidos quando retornamos o copo). Delícia de lugar mas o duro mesmo era ver o carrossel girar! Fiquei tonta só de ver a galera lá em cima, ainda bem que não nos aventuramos a subir!

Depois de umas cervejinhas no carrossel – e uma conversa sem pé nem cabeça com os alemães mais bêbabos da vida – fomos fazer uma boquinha (salsichas, obviamente) e depois resolvemos, na cara dura, tentar entrar em alguma tenda. Não sei como, mas fomos parar na porta da Löwenbräu, uma tendas mais tradicionais. Depois de uns 15 minutos de empurra-empurra e após presenciar a única briga da noite (um rapaz tentando forçar a entrada vs. um segurança da tenda), conseguimos finalmente entrar!

Cheio é apelido: o lugar estava LOTADO! Oficialmente a tenda tem capacidade para 5.700 pessoas lá dentro (e outras 2.800 no biergarten externo) mas confesso: foi a bagunça mais organizada que já vi! Talvez eu só diga isso porque, como um milagre, depois de dar 2 passos lá dentro encontramos uma mesa vazia, uma perfeita miragem pra quem só esperava ser capaz de entrar, dar umas voltas e voltar pra casa sem beber nada (já que só te vendem cerveja se você estiver sentado). Felipe correu e conseguiu pegar o lugar – mas não sem antes irritar uma das garçonetes, que disse que ele deveria ter pedido a mesa antes. Porém a bronca durou dois segundos e logo em seguida ela era só sorrisos e abraços! Em menos de 2 minutos já chegou com nossas cervejas (11EUR cada, já incluindo a gorjeta), carregando umas 10 Maß de uma vez. Eu virei fã da mulher depois que tentei fazer o mesmo e só consegui carregar 4 – e fazendo muito esforço! Gorjetas merecidas, amiga!

Löwenbräukeller: o inicio e o fim.

Löwenbräu Festzelt: o inicio e o fim

O ambiente era incrível e, apesar da lotação, estávamos muito confortáveis em nossa mesa. Conseguimos curtir bastante da tenda, até fechar! A banda era boa e as músicas eram menos piores do que eu esperava: todos os pops cafonas que conhecemos de cor e também, é claro, a tradicional “Ein Prosit, ein Prosit, der Gemütlichkeit!”. Um amigo me pediu pra traduzir e, na falta de uma tradução perfeita, eu disse que é mais ou menos: “Um brinde, um brinde, pra você se sentir em casa!”. A letra não diz isso literalmente, mas pra mim é isso que significa. Musiquinha chata mas bonitinha. Depois de duas giga-Maß então, é cantada a plenos pulmões por turistas e locais! Todo mundo de pé nos bancos das milhares de mesas. Em um momento anunciaram que o Mario Götze (jogador da seleção de futebol alemã) estava por lá. Até tentamos procurá-lo mas era simplesmente impossível encontrar alguém naquele lugar!

Dividimos nossa mesa com alguns alemães, um turista mexicano e uma turista francesa. Saímos de lá fazendo selfies, trocando contatos e virando melhores amigos. Acho que isso foi o mais bacana na Oktoberfest pra mim: a interação entre as pessoas e a vontade sincera que todo mundo tem de curtir a festa sem estresses! Tirando a briga do rapaz que queria forçar entrada na tenda, não vi nenhuma confusão, nem quando já era tarde da noite e todo mundo estava mais pra lá do que pra cá. Inclusive, durante o dia vi muitas famílias e crianças curtindo o parque, turistas de todas as nacionalidades, idosos, todo mundo numa boa! Saí feliz de lá, com uma sensação gostosa de ter curtido uma festa bacana com meus amigos e com muita vontade de voltar nos dias seguintes para visitar mais tendas.

Pode ser que seja deslumbramento de primeira vez e que em um ano eu acabe odiando tal bagunça. Mas hoje, em Setembro de 2014, escrevo meu primeiro post neste blog com a certeza de que se o começo da minha jornada em München foi assim, em um ano estarei completamente apaixonada por esta cidade!

Prosit!

Prosit!